Resumo
Cidade
amiga das pessoas idosas – contributo da Terapia Ocupacional na cidade do Porto
Tiago Coelho
Uma Cidade Amiga das Pessoas Idosas é um meio urbano que proporciona
condições de saúde, participação e segurança ao seus habitantes,
permitindo-lhes envelhecer ativamente, com qualidade de vida e dignidade,
maximizando o seu contributo para as suas famílias, comunidades e economias,
independentemente da sua idade.
O nosso estudo, de natureza qualitativa e exploratória, teve como
objetivo verificar se a cidade do Porto possui características de uma cidade
amiga das pessoas idosas, na perspetiva de idosos, seus cuidadores e
prestadores de serviços, residentes neste meio urbano. Para tal, realizamos
vinte e sete grupos de discussão (grupos focais), tendo sido utilizado um guião
de entrevista constituído pelas categorias definidas à priori: espaços
exteriores e edifícios; transportes; habitação; respeito e inclusão social;
participação social; participação cívica e emprego; comunicação e informação;
apoio comunitário e serviços de saúde. Os dados recolhidos foram sujeitos a uma
análise de conteúdo na sua função heurística. Participaram no estudo 78 pessoas
idosas, 19 cuidadores e 50 prestadores de serviços
Verificou-se que apesar dos participantes fazerem uma avaliação global
positiva da cidade, destacaram ao longo da discussão principalmente aspetos
negativos da cidade e que, concomitantemente, não podem ser considerados como
amigos das pessoas idosas. De facto, especialmente ao nível dos espaços
exteriores e edifícios, transportes e habitação, os participantes focaram
condições negativas tais como a insegurança face ao crime, limitações à
mobilidade e segurança física tais como obstáculos nos passeios, pavimentos
irregulares e declives acentuados, a reduzida largura das ruas, a pouca
acessibilidade da maioria dos autocarros, a redução da frequência de passagem
de transportes públicos ao fim de semana, a falta de condições de algumas
paragens, o estado de deterioração de muitas habitações e falta de alternativas
acessíveis. Por sua vez, ao nível da participação social, dos meios de
comunicação e informação disponíveis e dos serviços comunitários, os
participantes demonstraram-se genericamente satisfeitos. No entanto, importa
destacar que para além de se terem identificado aspetos positivos e negativos
para cada uma das categorias em análise, verificou-se que a opinião dos
participantes da cidade era marcadamente influenciada pelo contexto em que
habitavam, tendo-se evidenciado diferenças claras ao nível do discurso de
residentes, por exemplo, na zona histórica e residentes na zona oriental da
cidade.
Pela sua compreensão exaustiva e fundamentada da dinâmica entre pessoa,
ocupação e
ambiente, a terapia ocupacional pode contribuir para que uma cidade se
torne mais amiga da pessoa idosa. Esse contributo pode efectivar-se em dois
níveis distintos mas complementares: macro – ao aconselhar, sugerir e propor
medidas e programas às instituições públicas e privadas que ao potenciarem a
amigabilidade da cidade, potenciam o papel do idoso enquanto recurso ou
cliente; e micro – ao intervir directamente com a pessoa idosa, tornando o
ambiente mais facilitador e promovendo o empowerment do
indivíduo para que este tenha a oportunidade de viver com dignidade, usufruindo
dos recursos que o meio lhe tem a oferecer.
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