C o m u n i c a ç ã o L i v
r e
Resumo
O perfil sensorial de crianças
institucionalizadas
Isabel Damas Ferreira
A
privação maternal e a privação ambiental podem afetar a criança. Caso claro de
privação é a institucionalização das crianças desde idades muito precoces, havendo
poucos trabalhos de investigação sobre os efeitos da institucionalização no
processamento da informação sensorial.
Pretendemos
estudar se o desenvolvimento do processamento sensorial das crianças que se
encontram em instituições de acolhimento se desenrola adequadamente.
Realizamos
um estudo descritivo, univariado – multivariado, com grupo de controlo, sem
medida prévia. Aplicamos três questionários aos cuidadores institucionais e aos
pais (o Perfil Sensorial, a Medida do Processamento Sensorial - contexto casa -
e o Índice de Stress Parental), e um
questionário aos professores e aos educadores de infância (a Medida do
Processamento Sensorial - contexto classe).
A
amostra foi constituída por 138 crianças, entre os 5 e os 10 anos, pelos seus
pais, professores e cuidadores, das quais 51 crianças foram recrutadas em
centros de acolhimento da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa. Em relação às
crianças que se encontram institucionalizadas, entregaram-se os quatro
questionários aos psicólogos e diretoras dos centros de acolhimento. Para as
crianças que se encontram com as suas famílias, foi pedido aos educadores e
professores que enviassem, via aluno, os três questionários a preencher pelos
cuidadores, com o respetivo pedido de autorização.
Relativamente
aos dados recolhidos, estes foram analisados fazendo recurso à estatística
descritiva e à análise da variância multivariada. Os resultados mostraram que
as crianças que se encontram nas instituições apresentam um desenvolvimento do
processamento sensorial, dentro dos parâmetros
considerados típicos, exceto na Reação Emocional e na
Inatenção/Distratibilidade.
Em
relação ao funcionamento sensorial, as crianças que se encontram nas
instituições mostraram um funcionamento típico, na maioria das variáveis do
contexto casa, exceto na Participação Social. Já no contexto classe, as
crianças apresentaram diferenças na maioria das escalas, exceto na Participação
Social, o Toque e o Planeamento e Ideias. Estes resultados vão ao encontro de
algumas pesquisas realizadas que apontam para problemas no desenvolvimento da
integração sensorial em crianças que se encontram institucionalizadas, podendo
no entanto não o demonstrar em todos os contextos. Contudo, como grupo, estas
crianças estão, significativamente, em risco.
No
que diz respeito ao índice de stress
na relação cuidador-criança, as crianças que se encontram nas instituições têm
um índice dentro dos padrões considerados normais, exceto para a Aceitação, o
Reenforço, a Vinculação e a Restrição de Papéis. Os resultados encontrados
coincidem com algumas das linhas de estudo que referem a importância da
primeira ligação mãe-criança para o desenvolvimento, na criança, de inúmeras
aptidões e competências sociais que são fundamentais para o estabelecimento de
futuras relações positivas.
A noção de criança em risco
contempla o ambiente no qual a criança está inserida e cresce como ser. Estas
vivências são o veículo para o seu desenvolvimento físico, psicológico e
emocional que ajuda a criança a organizar os aspetos da sua vida e a responder
às solicitações do meio promovendo uma participação eficaz nos papéis
ocupacionais que a sociedade espera que a criança desempenhe.
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