sexta-feira, 26 de outubro de 2012

O perfil sensorial de crianças institucionalizadas

C o m u n i c a ç ã o   L i v r e

Resumo
 
O perfil sensorial de crianças institucionalizadas

Isabel Damas Ferreira


A privação maternal e a privação ambiental podem afetar a criança. Caso claro de privação é a institucionalização das crianças desde idades muito precoces, havendo poucos trabalhos de investigação sobre os efeitos da institucionalização no processamento da informação sensorial.

Pretendemos estudar se o desenvolvimento do processamento sensorial das crianças que se encontram em instituições de acolhimento se desenrola adequadamente.
Realizamos um estudo descritivo, univariado – multivariado, com grupo de controlo, sem medida prévia. Aplicamos três questionários aos cuidadores institucionais e aos pais (o Perfil Sensorial, a Medida do Processamento Sensorial - contexto casa - e o Índice de Stress Parental), e um questionário aos professores e aos educadores de infância (a Medida do Processamento Sensorial - contexto classe).

A amostra foi constituída por 138 crianças, entre os 5 e os 10 anos, pelos seus pais, professores e cuidadores, das quais 51 crianças foram recrutadas em centros de acolhimento da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa. Em relação às crianças que se encontram institucionalizadas, entregaram-se os quatro questionários aos psicólogos e diretoras dos centros de acolhimento. Para as crianças que se encontram com as suas famílias, foi pedido aos educadores e professores que enviassem, via aluno, os três questionários a preencher pelos cuidadores, com o respetivo pedido de autorização.
Relativamente aos dados recolhidos, estes foram analisados fazendo recurso à estatística descritiva e à análise da variância multivariada. Os resultados mostraram que as crianças que se encontram nas instituições apresentam um desenvolvimento do processamento sensorial, dentro dos parâmetros  considerados típicos, exceto na Reação Emocional e na Inatenção/Distratibilidade.


Em relação ao funcionamento sensorial, as crianças que se encontram nas instituições mostraram um funcionamento típico, na maioria das variáveis do contexto casa, exceto na Participação Social. Já no contexto classe, as crianças apresentaram diferenças na maioria das escalas, exceto na Participação Social, o Toque e o Planeamento e Ideias. Estes resultados vão ao encontro de algumas pesquisas realizadas que apontam para problemas no desenvolvimento da integração sensorial em crianças que se encontram institucionalizadas, podendo no entanto não o demonstrar em todos os contextos. Contudo, como grupo, estas crianças estão, significativamente, em risco.
No que diz respeito ao índice de stress na relação cuidador-criança, as crianças que se encontram nas instituições têm um índice dentro dos padrões considerados normais, exceto para a Aceitação, o Reenforço, a Vinculação e a Restrição de Papéis. Os resultados encontrados coincidem com algumas das linhas de estudo que referem a importância da primeira ligação mãe-criança para o desenvolvimento, na criança, de inúmeras aptidões e competências sociais que são fundamentais para o estabelecimento de futuras relações positivas.
A noção de criança em risco contempla o ambiente no qual a criança está inserida e cresce como ser. Estas vivências são o veículo para o seu desenvolvimento físico, psicológico e emocional que ajuda a criança a organizar os aspetos da sua vida e a responder às solicitações do meio promovendo uma participação eficaz nos papéis ocupacionais que a sociedade espera que a criança desempenhe.

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